Em um intervalo de apenas 48 horas, a Covid-19 foi capaz de vitimar uma mãe e seu filho em Franca. Tudo começou no sábado, 26, quando Eni Coelho Silva, de 68 anos, não resistiu e veio a óbito. Dois dias depois, na segunda-feira, 28, seu filho Anselmo Xavier da Silva, de 44, teve o mesmo fim e acabou não resistindo. Ambos estavam internados no Hospital do Coração desde o dia 19.
A família não teve condições de se preparar para receber duas notícias tão difíceis em pouco tempo. "A semana foi turbulenta demais, como se tivesse um tsunami passando por cima de nós. Os dois internados, entubados. Quando minha mãe faleceu no sábado, às 18h, eles ligaram avisando e pedindo para entrar em contato com a funerária. Quando foi na segunda-feira, comigo correndo atrás do rgistro de óbito dela, fui lá em Cristais pagar a taxa do enterro, cheguei em casa e minha cunhada ligando avisando que meu irmão tinha acabado de falecer”, conta Simone Silva, filha de Eni e irmã de Anselmo.
Apesar da perda da mãe, Simone conta que o que mais surpreendeu foi a morte de Anselmo, já que ele não possuía nenhum problema. “A minha mãe estava com uma tosse. Ela tinha diabetes, pressão alta e problemas de coração. Estava fraca, meio depressiva. Para ela, era meio complicado conseguir passar por isso, só com um milagre de Deus. Mas o meu irmão, 44 anos, forte, na ativa, trabalhando, pegou esse vírus e não resistiu”.
A perda e a contaminação de outros membros da família fizeram Simone acreditar na doença, que antes não era tão levada a sério. “Esse vírus eu não levava muito a sério, mas dependendo do lugar eu estava de máscara, sempre lavava muito bem a mão. Assim fomos fazendo. Devagar mas não constante. Fiz exame e deu negativo. Meu marido testou positivo, mas não foi grave, foi leve. Minha irmã pegou. Então é uma doença estranha. Um trem de louco. Não dá para entender esse vírus. E não tem tratamento, então eu fico perdida, não sei o que falar”.
Mas a mulher revela que o pior não foi ter encarado o vírus e ver ele levando dois entes queridos, mas sim a forma como tudo foi conduzido, sem poder ter muito contato, devido às medidas de segurança. “Faziam chamada de vídeo. Conversamos com ela por três dias e depois entubaram ela. Meu irmão foi dando febre, aí trocavam de medicamento. Aplicavam insulina na minha mãe de hora em hora. Isso era o que eles passavam para gente. A gente não tinha muita noção do que acontecia. Por que os enfermeiros podem entrar e ter contato, mas os familiares não? Por que que eles não deixam?”
Com o impasse, Simone revelou um drama, que é não ter visto o corpo de sua mãe para se despedir. “Não falaram nada de que poderíamos ir ver nossa mãe já morta. Então nós não velamos nem um segundo, porque não pudemos ver. Aí enterramos. Não sei quem estava lá dentro. Não sabemos se é nossa mãe que foi enterrada, se estamos enterrando outra pessoa. É muita falta de informação. É uma falta de amor ao próximo”, finalizou.
FONTE-https://gcn.net.br/noticias/413303/franca/2020/10/covid-19-mata-mae-e-filho-em-intervalo-de-48-horas